quinta-feira, 29 de setembro de 2011

TRANSLINEAÇÃO DE PALAVRAS HIFENIZADAS

Diz o § 6º da Base XX do Acordo Ortográfico:

"Na translineação de uma palavra composta ou de uma combinação de palavras em que há um hífen, ou mais, se a partição com o final de um dos elementos ou membros, deve, por clareza gráfica, repetir-se o hífen no início da linha imediata: ex- -alferes, serená- -los- -emos, vice- -almirante".

Em outras palavras, sempre que uma palavra com hífen for escrita em duas linhas (no final de uma e no início da linha imediatamente posterior), deve-se colocar o hífen no final e no início das respectivas linhas.

Exemplificando:

Dizem que o presidente da República, quinze senadores e o ex-
-ministro da Fazenda discordaram das últimas informações dos jornais.

Notícias internacionais dão conta de que o ex-primeiro-
-ministro pretende voltar ao poder.

Notícias internacionais dão conta de que o ex-
-primeiro-ministro pretende voltar ao poder.


Observe que em cada frase as palavras destacadas são escritas no final da linha com um hífen e são antecedidas de um hífen na linha imediatamente posterior.

Não havendo hífen, inexiste a necessidade do mesmo no início da segunda linha:

Notícias internacionais dão conta de que o mi-
nistro pretende voltar ao poder.

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terça-feira, 20 de setembro de 2011

MOTO TÁXI, MOTOTÁXI ou MOTO-TÁXI? MOTO TAXISTA, MOTOTAXISTA ou MOTO-TAXISTA?

Em outra postagem vimos que é comum encontrarmos a escrita auto escola (ou mesmo auto-escola), quando o correto é autoescola - erro, por sinal, ainda existente no art. 154 do Código de Trânsito Brasileiro.

Comum é também encontrarmos moto táxi (e moto taxista), moto-táxi (e moto-taxista), mas o correto é mototáxi e mototaxista.

Caso sua empresa de mototáxi esteja registrada com a escrita errada, não há a necessidade de alteração, ante a Base XXI do Acordo Ortográfico, que dispõe:

"Para ressalva de direitos, cada qual poderá manter a escrita que, por costume ou registro legal, adote na assinatura do seu nome. Com o mesmo fim, pode manter-se a grafia original de quaisquer firmas comerciais, nomes de sociedades, marcas e títulos que estejam inscritos em registro público".

LEIA TAMBÉM:

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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O Senhor ou O senhor? O Sr. ou O sr.?

O presente questionamento decerto é algo que incomoda muita gente, e há motivos para tanto. Salvo raras exceções, o tema não é abordado de forma clara pelas gramáticas, e os livros convencionais geralmente fazem silêncio sobre o assunto. Afinal, devemos usar "Senhor/Sr." (com inicial maiúscula) ou "senhor/sr." (com inicial minúscula)?

Para responder a essa pergunta, vamos nos limitar a duas obras: o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, produzido pela Academia Brasileira de Letras e a Moderna Gramática Portuguesa, de Evanildo Bechara.

Sobre a forma por extenso Senhor/senhor, O Volp se limita a dizer que "A letra minúscula inicial é usada nos axiônimos"*, e traz como único exemplo (no caso em questão) "senhor doutor Joaquim da Silva".

Quanto à abreviatura, o próprio Volp diz que a inicial deve ser maiúscula: "Sr." e não "sr."

Assim, com base no entendimento da ABL (Base XIX, § 1º "f" e § 2º "h" do Acordo Ortográfico), se eu emprego a forma por extenso, devo usar a inicial minúscula (senhor) e se abreviada, a inicial maiúscula (Sr.). Não use o itálico, salvo em citações ou destaque (como o fiz aqui).

Evanildo Bechara, respeitável gramático e membro da Academia Brasileira de Letras, diverge em apenas um ponto: diz que a forma por extenso pode ter a inicial maiúscula ou minúscula. Quanto à abreviatura, ele também defende que só a inicial maiúscula deve ser usada.


Em resumo, temos:

Academia Brasileira de Letras:

O senhor Joaquim virá hoje.
O Sr. Joaquim virá hoje.

Evanildo Bechara:

O Senhor Joaquim virá hoje. (= O senhor Joaquim virá hoje.)
O Sr. Joaquim virá hoje.

Cabe ainda uma última observação: nos documentos oficiais ou estilo epistolar, a inicial maiúscula deve ser usada, sem exceção:

Prezado Senhor Joaquim

A Sua Excelência o Senhor

Senhor Diretor


Sobre o uso de iniciais maiúsculas e minúsculas, acesse:

http://portuguesdidatico.blogspot.com/2010/05/uso-da-inicial-maiuscula-postagem.html

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* Segundo o Dicionário Aulete, axiônimo é o "nome das palavras que constituem formas corteses de tratamento, expressões de reverência, títulos honoríficos, etc.".

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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

CRÊ OU CRER?

O infinitivo pode ser flexionado ou não. Quando se usa crê, o verbo está flexionado, ao passo que a forma crer não apresenta flexão. Ou seja, sempre que o verbo se apresenta numa frase com o "r" no final, temos um infinitivo não flexionado.

Dúvidas frequentes são relatadas em relação ao emprego de crê e crer, assim como em relação às formas e ver.

Tomemos como exemplo um famoso sermão de Agostinho: "Entende para crer, crê para entender" (originalmente escrito em latim: "Intellige ut credas, crede ut intelligas").

Como saber exatamente se devo escrever crer ou crê?

A melhor dica é substituir as referidas formas por outros verbos. Vamos utilizar a pŕopria frase de Agostinho: "Entende para crer, crê para entender".

Fazendo a devida substituição temos: "Entende para acreditar, acredita para entender".

Com se vê, a forma flexionada ou não flexionada permanece inalterada, mesmo havendo a substituição do verbo.

Notemos outro exemplo:

Quem crê na ressurreição de Cristo, certamente tem motivos de sobra para crer na própria ressurreição.

Vamos substituir as formas verbais em questão:

Quem acredita na ressurreição de Cristo, certamente tem motivos de sobra para acreditar na própria ressurreição.

Percebe-se que, onde tínhamos crê, temos acredita (ambos sem o "r" no final), enquanto no lugar de crer temos acreditar (ambos com o "r" no final).

Assim, para se evitar um possível erro na escrita, faça antes uma substituição mental, de modo que fique claro o emprego adequado. O mesmo método vale para LÊ e LER.
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Sobre as forma e ver, acesse:
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sábado, 3 de setembro de 2011

LAVA JATO, LAVA-JATO, LAVA À JATO OU LAVA A JATO?

A primeira coisa que se deve ter em vista na hora de responder à pergunta em questão é saber se o que está sendo colocado é uma referência ao avião movido a propulsão ou ao estabelecimento próprio para lavar carros com a utilização de jato.

Então vamos por parte.

De cara já descartamos "lava à jato", uma vez que não se usa crase antes de nomes masculinos.

O Dicionário Aurélio traz, dentre outros significados, o conceito de jato: "saída impetuosa de um líquido ou de um gás".

"A jato" é uma locução adverbial (sem crase porque esta não é usada antes de nomes masculinos). Assim, lavar a jato significa "lavar algo utilizando um objeto que provoca a saída impetuosa de água".

Tratando-se, portanto, do estabelecimento próprio para lavar veículos, o correto é "lava a jato":

Fabiana preferiu antes deixar o carro no lava a jato, e em seguida fazer a viagem tão sonhada.

Quanto à formação "lava-jato", vale lembrar que uma das regras da formação dos compostos afirma que há o emprego do hífen na composição "verbo + substantivo".

Assim, se escrevo "lava-jato", estou me referindo hipoteticamente a um estabelecimento para lavar aviões ou a algum objeto com tal finalidade  (sem, contudo, haver a utilização de saída impetuosa de água), embora nem o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa nem os dicionários registrem tal composto. Exemplos:

Seu José tem um lava-jato.

Não se está afirmando aqui que a lavagem é por meio de jatos, mas unicamente que o estabelecimento ou o objeto é especificamente para se lavar aviões. Vale reforçar que tal vocábulo não existe, mas é possível aplicá-lo em tal situação.

Eu posso escrever "lava jato" somente em uma situação, como no exemplo abaixo:

O senhor João lava jato, e o faz com grande presteza. (ou seja, o senhor João tem a tarefa de lavar aviões, comumente chamados de jatos)

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