quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A GENTE VAMOS

Em uma conversa cotidiana, José diz para Maria: "A gente vamos hoje e volta amanhã". A questão é: os verbos "ir" e "voltar" estão devidamente empregados na referida frase?

Do ponto de vista gramatical não há erro na frase, mas, na linguagem formal, não devemos usar o verbo no plural. Por que, enfim, "A gente vamos" está correto?

A concordância se dá de palavra para palavra ou de palavra para sentido. No primeiro caso, por exemplo, a seguinte frase pode nos servir de modelo: "Eles disseram que José virá".

O verbo "dizer", no plural, está concordando com a palavra "eles", ao passo que o verbo "vir" está no singular porque está se referindo ao substantivo "José". Conforme se vê, temos a concordância de palavra para palavra.

Já em "O povo disse que não aceitará mais enrolação política, de sorte que estavam dispostos a enfrentar qualquer tentativa contrária", a conjugação verbal "estavam" - que se refere ao substantivo "povo" - se acha no plural porque está concordando com a ideia de pluralidade contida no referido substantivo. É a concordância de palavra para sentido, ou, no dizer gramatical, temos uma silepse.

Assim, do ponto de vista gramatical, não haveria erro em "A gente vamos", "A gente fomos", etc.

No entanto, como bem assinala Evanildo Bechara, "A língua moderna impõe apenas a condição estética" como critério para se escolher a frase a ser empregada.

Neste sentido, note que em "O povo disse que não aceitará mais enrolação política, de sorte que estavam dispostos a enfrentar qualquer tentativa contrária", o verbo conjugado no plural (estavam) se acha distante do substantivo "povo", daí a tolerância de seu emprego.

Segue-se, pois, que a construção "A gente vamos" só é admitida em se tratando de linguagem coloquial, seja ela em momento de representação (teatro, cinema), seja ela na vida real. Do mesmo modo, estando o verbo distante na frase do sujeito a que se refere, é possível o emprego da conjugação no plural.

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