Tentaremos sintetizar, de forma bastante objetiva, alguns empregos do apóstrofo a partir das prescrições do Acordo Ortográfico de 1990 (atualmente em vigor).
1º - Posso escrever e ler em Os Sertões ou n'Os Sertões. Vejamos alguns casos possíveis:
Lê-se em Os Sertões sobre a Guerra de Canudos.
Lê-se n'Os Sertões sobre a Guerra de Canudos.
Observação 1: O emprego do apóstrofo exige a consoante n na forma minúscula, salvo se iniciar uma frase.
A mesma regra vale para em Os Lusíadas e n'Os Lusíadas.
Observação 2: Quando não utilizamos o apóstrofo, devemos ter muito cuidado na hora de empregar, na forma escrita, a preposição que antecede o título de uma obra iniciada por artigo (como Os Sertões, por exemplo):
Referiu-se a Os Sertões. (e não aos Sertões, nem ao Os Sertões)
Lê-se em A República toda a utopia política de Platão. (e não na República)
Referiu-se a A República. (e não à República)
A Guerra de Canudos está contida também em Os Sertões. (e não nos Sertões)
O motivo da exigência é simples: havendo a contração ou a combinação, fica comprometido o exato título da obra. Assim, se o título correto é A República, escrevendo-se na República, estaríamos dizendo que o nome da obra é somente República, o que seria um erro.
O texto do acordo abre uma ressalva somente para os casos de leitura, quando também estariam corretas as construções consideradas erradas na escrita, as quais foram utilizadas logo acima. Segue, pois, que, por questão de agrado auditivo (eufonia), eu poderia ler (e não escrever):
Referiu-se aos Sertões.
Lê-se na República toda a utopia política de Platão.
Referiu-se à República.
A Guerra de Canudos está contida também nos Sertões.
2º - Referindo-se a Deus, a Jesus, à mãe de Jesus e à Providência, obrigatoriamente devemos escrever (e ler), quando optarmos pelo apóstrofo:
A salvação só poderá vir d'Ele. (de Jesus ou de Deus)
Está n'Ela, aos pés da cruz, a marca do sofrimento materno. (da mãe de Jesus)
Hitler sempre confiou na Providência, e via n'Ela a chance de reverter o destino que o celou.
Observação 1: Referindo-se aos mesmos personagens, devemos escrever (quando não utilizarmos o apóstrofo) com iniciais minúsculas os vocábulos correspondentes:
A salvação só poderá vir Dele. (de Jesus ou de Deus)
Está Nela, aos pés da cruz, a marca do sofrimento materno. (da mãe de Jesus)
Hitler sempre confiou na Providência, e via Nela a chance de reverter o destino que o celou.
Observação 2: Esta regra não vale para os demais santos católicos, nem para os personagens de outra religião e muito menos para quaisquer outros personagens históricos, por mais ilustres que sejam. Certamente estamos diante de um caso de flagrante influência que o cristianismo ainda exerce nos países signatários do presente Acordo.
3º - Nos compostos tradicionalmente escritos com o dito apóstrofo: cobra-d'água, olho-d'água, galinha- -d'água, caixa-d'água, estrela-d'alva, mãe-d'água, etc.
4º - Não se utiliza o apóstrofo em construções do tipo: destas, daquela, daqueloutro, dacolá, dantes, dalgum (de algum), doutro, doutrora, doutrem, etc.
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